Núcleos de Criação
Os Núcleos de Criação são processos criativos abertos a artistas e estudantes de arte interessados em investigações propostas por integrantes do Espanca!. Cada Núcleo investiga questões relacionadas à arte contemporânea a partir de um tema proposto por um membro do grupo e encerra-se com a criação de um “objeto cênico”. Mais do que uma oficina de longa duração, os Núcleos de Criação são uma forma de efetivar o intercâmbio do Espanca! com artistas de diversos territórios e linguagens. Ao mesmo tempo em que viabilizam propostas individuais dos artistas do grupo, proporcionam criações coletivas que contenham elementos do trabalho desenvolvido pela companhia.
A 1ª edição do projeto ocorreu em 2012, quando Marcelo Castro, Gustavo Bones e Grace Passô coordenaram os núcleos “Treinamento em ViewPoints e Suzuki”, “Arte e Ativismo” e “O Berro”. Mais de 100 pessoas se inscreveram e 45 artistas belorizontinos participaram dos Núcleos de Criação. Cada processo durou 2 meses e os resultados foram apresentados no Inhotim.
:: treinamento em viewpoints e suzuki –coordenado por marcelo castroO Suzuki é um método de treinamento desenvolvido pelo diretor Tadashi Suzuki com o objetivo de recuperar a integridade do corpo humano para o contexto teatral e desvendar as habilidades expressivas de cada um. Viewpoints é uma técnica de improvisação com origem na dança, inicialmente criada pela coreógrafa Mary Overlie, que dividiu os conceitos de TEMPO E ESPAÇO em seis categorias: os viewpoints. Desde então a técnica se desenvolveu através do trabalho de Anne Bogart com a SITI Company, que continua expandindo esta técnica para o trabalho do performer. Os Viewpoints permitem que um grupo de atores trabalhe intuitivamente na criação de eventos teatrais. O treinamento proposto pretende aumentar a capacidade física e emocional dos participantes no comprometimento com o instante teatral.
Durante 2 meses de ensaios, os participantes exploraram a relação entre treinamento e criação e, ao final, realizaram uma ViewPoints Jam na obra “Desert Park”, de Dominique Gonzalez-Foerster, no Inhotim.
Encarando a prática artística como possibilidade concreta de transformação da realidade e a prática ativista como geradora de signos e sentidos coletivos; mais do que uma arte “sobre”a realidade, o Núcleo pretendia viabilizar a arte “com” a realidade, a partir do contato entre um artista comprometido com seu tempo e uma realidade social. Assim, busca-se a criação artística como uma atitude inconformada com as injustiças sociais, econômicas e simbólicas (que utilize “o outro” como ferramenta, inspiração e parceiro) e a ação ativista como uma resistência sensível e poética: a própria execução do objeto artístico como uma atitude interessada na transformação do mundo. Tensionando as relações entre arte e política, arte e realidade social, arte e comunidades periféricas, o Núcleo aproxima-se de causas ativistas para criar objetos artísticos comprometidos com a mudança da realidade. A partir do contato com membros de movimentos sociais ou minorias oprimidas (moradores de rua, desalojados da Copa, sem-teto, etc), os participantes criaram, junto dessas pessoas, intervenções que propunham alternativas à realidade. O processo experimentou princípios do teatro, da performance arte e da intervenção urbana, além de refletir sobre ‘práticas coletivas’, ‘teatro de relação’ e ‘urbanismo afetivo’.
Após 2 meses de ensaios e intervenções, os participantes fizeram uma Visita Coletiva ao Inhotim junto de ativistas, adolescentes em situação de rua, crianças da ocupação Zilah Spósito e do grupo Terceira Dança (dança contemporânea na terceira idade).
Compor discursos para o mundo, urgentes; falar esses discursos (abrindo ou não a boca); articular esses discursos, relacionando-os com os discursos do outro; perceber o evento que acontece neste embate ou consentimento. Este Núcleo investigou, através das sonoridades do hip hop, como o ritmo pode reger o movimento, como pode reger a palavra falada, impulsionar a expressão autoral e ser um maestro para a criação das formas da cena.
Depois de 2 meses de ensaios e criação coletiva, os participantes apresentaram um experimento cênico na obra “Continente/Nuvem”, de Rivane Neuenschwander, instalada no Inhotim.
A 2ª edição dos Núcleos de Criação ocorreu em 2015, quando Marcelo Castro, Aline Vila Real e Gustavo Bones coordenaram os núcleos “Herdeiros do Abismo”, “Salto À Distância” e “Coral Urbano – A Voz da Rua”. 70 pessoas se inscreveram e 35 artistas belorizontinos participaram dos processos, que duraram um mês cada.
:: Herdeiros do Abismo – coordenado por marcelo castro + júlia panadésEste Núcleo se dedicou a estudos cênicos que envolviam escrita e improvisações em grupo, a partir de diálogos com o espaço urbano e a idéia do “espanto diante do mundo”.
Uma reunião de pessoas dispostas a “saltar à distância” e compartilhar estratégias e tecnologias para a realização de projetos artístico-culturais. Uma rede de produtores culturais interessados em compartilhar experiências, treinar suas técnicas dentro de novos processos e conhecer outras superfícies.
Um coral formado para cantar/falar na rua a partir de um estudo sobre as “vozes” da Aarão Reis, a rua onde está o Teatro Espanca. O processo envolveu estudos sobre intervenções urbanas, utilizando elementos cênicos e vocais.
>> notas sobre o coral urbano – núcleo de criação do espanca!, por Bernardo RB
Os NÚCLEOS DE CRIAÇÃO: ESTUDOS PARA PASSAARÃO, realizados em 2016, investigaram a Rua Aarão Reis (hipercentro de BH) sob perspectivas históricas, dramatúrgicas, performáticas e teatrais. Ela é, atualmente, o local da cultura genuína de Belo Horizonte, é o local onde a cidade nasceu e ainda leva o nome de quem a projetou. Pode ser vista como o avesso do projeto original da nova capital: caótica, descontrolada, multifacetada e, por isso mesmo, viva e pulsante.
95 se inscreveram e 40 artistas participaram dos núcleos que tiveram, em média, 40 horas, distribuídas em 3 meses
:: encontros provisórios: convívios instáveis, vibrantes e de alto risco – coordenado por marcelo castro e ana luísa santos
Foto: Flávia Mafra
Este Núcleo de Criação abordou questões relativas à arte da performance. Como estratégia artística foi realizada uma espécie de arqueologia dos usos e inscrições na rua Aarão Reis, uma das primeiras vias de Belo Horizonte. O trabalho partiu de práticas de experimentação performativa no espaço urbano através dos seguintes princípios:
disponibilidade/abertura/porosidade
mapeamento/escutacontaminação/contágio
invenção/interferência
registro/reverberação
compartilhamento
O desejo foi exercitar o engajamento estético-político através de imersões na rua.
Foto: Pablo Bernardo
Criatura buscou reconhecer territórios e refletir sobre elementos identitários que podem fazer da rua Aarão Reis um lugar de encontro de pessoas, com suas referências históricas e culturais. Investigou-se as potências desta zona da cidade para refletirmos população/povo/cidadãos/comunidade.
Foto: Marcelo Castro
Neste núcleo os participantes construiram coletivamente um boneco de fios de 5 metros de altura, utilizando técnicas sofisticas de articulações, escultura e acabamento, possibilitando a compreensão de todas as etapas de construção de uma marionete.
Foto: Arquivo público de BH
Foram realizados estudos teóricos e práticos sobre a história e a diversidade da rua Aarão Reis utilizando princípios do teatro, da performance e da intervenção urbana. Os participantes realizaram encontros com habitantes, trabalhadores, frequentadores da rua e pesquisadores, colhendo memórias, impressões e relatos. Uma cartografia criativa e coletiva sobre aspectos culturais, sociais e antropológicos da rua Aarão Reis.
>> Conheça aqui o diário dos Núcleos de Criação.