:: direção, dramaturgia, direção de arte e coordenação de produção: Espanca! (Aline Vila Real, Grace Passô, Gustavo Bones e Marcelo Castro)
:: com Adeliane Melo, Adriana Januário, Ana Araújo, Bruno Cuiabano, Clécio Luiz, Denise Leal, Fabiana Loyola, Fabiano Rabelo, Fábio Ribeiro, Flávia Almeida, Guilherme Colina, Igor Leal, Juliana Birchal, Luciana Brandão, Mayara Dornas e Roberta Torres
O Espanca! coordenou o processo de criação do espetáculo de formatura do curso profissionalizante de teatro do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes. O grupo assinou coletivamente a direção do processo, pensando em trazer aos atores-formandos, a vivência cotidiana de um coletivo teatral. Os alunos também envolveram-se na escrita do texto, na produção do espetáculo e na criação de cenário e figurinos. O Laboratório de Trilha Sonora do CEFAR, coordenado pelo Professor Ricardo Garcia, também fez uma importante contribuição artística e pedagógica. O trabalho com os professores Cristiano Peixoto (na preparação dos atores) e Gabriela Christófaro (na prática corporal) foram trocas muito importantes para a formação de todos nós. Construído a partir do estudo de contos da literatura fantástica latino-americana, Delírio em Terra Quente é uma investigação sobre a identidade latina, sobre o imaginário que permeia nosso continente: uma dança entre aquilo que se idealiza e aquilo que se realiza nessa terra tão calorosa.
Delírio em Terra Quente estreou dia 09 de dezembro de 2010, no Meia Ponta Espaço Cultural Ambiente, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O elenco da peça contava com 16 atores, que juntaram-se para realizar 15 sessões da peça para cerca de 1.500 espectadores. O espetáculo cumpriu temporadas em Belo Horizonte e apresentou-se na mostra Fringe do Festival de Curitiba, no Paraná.
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Este espetáculo se ergueu a partir da leitura de contos de autores latino-americanos identificados com o chamado realismo fantástico, ou maravilhoso. Esses contos nos levaram a uma reflexão sobre as identidades da América Latina, o que forma um sentimento, uma sensação de pertencimento a essas terras tão calorosas. Concretamente, o que vocês verão são cenas inspiradas em Propriedades de um Sofá e Fábula Sem Moral, textos de Júlio Cortazar, Borboletas de Koch, de Antonio di Benedetto, Me Alugo Para Sonhar e no prólogo de 12 Contos Peregrinos, ambos de Gabriel Garcia Márquez.
Durante o processo, vivemos com os atores a experiência de um grupo de teatro, cotidianamente. E acreditando que isso também é pedagógico, compartilhamos o dia-a-dia de nossa companhia para além da criação artística e técnicas de atuação: a estrutura do grupo, os projetos, planejamentos, e também as discussões, reflexões, trocas para a construção coletiva de um pensamento de teatro.
Aos formandos, diríamos que o mais importante não é o teatro. É o que nos faz ir até ele, o desejo de buscar uma expressão, de traduzir em signos determinada sensação. Mais importante do que o teatro é ritualizar a convivência, transformá-la em afeto e diálogo, através do respeito ao outro, ao diferente e do respeito ao próprio teatro. Acreditamos que essa busca é que nos fará seguir caminhando, escaldados pelo Sol de nosso chão, construindo, através de nosso ofício, um espaço para a resistência. Aprendemos com nossos antepassados que resistir é prosseguir cantando, transformando nossos ritos a partir do contato com o outro, para além do além-mar, acima das naus, por cima do torturador, dos patrões, dos deuses e das tribos inimigas. Esse projeto nos mostrou como resistir, resta-nos fazer isso em coro.
Ainda sobre nosso espetáculo, gostaríamos de dizer que a fantasia está em nossa vida, não há como negá-la. Conviver com o fantástico é nossa tarefa mais prazerosa, uma maneira de se posicionar diante da realidade. E a morte, embora difícil, é aquilo que nos faz questionar o próprio viver. Ela é, pois, o alimento de nossos sonhos, tão tropicais.
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Tudo começou com um desejo, um sonho. Um processo de criação ousado: montar um espetáculo com criação coletiva baseada no encontro entre um grupo de teatro e nós, alunos. A proposta foi lançada pelo Espanca!. Estávamos todos lá: atores, diretores, professores. Estava claro desde o inicio que o sonho era coletivo, e esse sonhar coletivo era nossa meta. Já no primeiro dia saltamos juntos no desafio, que às vezes duvidávamos ser realidade. Sair juntos e chegar juntos. E para isso precisávamos nos olhar, olhar além dos olhos, falar de nossos pesadelos. Estávamos todos atentos aos nossos medos, olhares, histórias, e por que não, as nossas histórias latinas. E de repente a pergunta foi feita: nos reconhecemos como latino-americanos? A resposta não viria assim tão fácil. O jeito era abrir nosso peito, colocar nossos corpos no espaço e sentir. Alguma coisa já estava acontecendo. E como num sonho, onde o tempo brinca e o caos ensina, o delírio estava lá. Estávamos todos lá. Sim, Delírio em Terra Quente é um delírio coletivo, se é que é possível pensar assim. E talvez essas duas palavras – delírio e coletivo – sejam bastante significativas não só para pensar o nosso processo de construção do espetáculo, mas também o fazer teatral (e claro, os três anos de convivência) e, quiçá, toda a formação identitária da América Latina. Opa! Devagar com as generalizações, que a América Latina é um mundo gigante, híbrido, com várias identidades, línguas, culturas. Pretenso projeto esse de tentar entender qual ou quais seriam as identidades latinas… Mas os contos de Gabriel Garcia Márquez, Jorge Luiz Borges, Júlio Cortazar, entre outros autores, nos amparavam, nos fortaleciam. Então mergulhamos em um universo fantástico, que de repente descobrimos ser maravilhoso, e chegamos ao nosso próprio lar. Construímos estereótipos, personagens-tipo, figuras, e de repente percebemos que éramos nós mesmos. Porque, afinal, falar de delírio em terra quente é falar de nossos próprios delírios, de nossa própria terra. Então, falamos de nós. Sim, somos latino-americanos. Porque, para nós, como para Cortazar, “a realidade é uma realidade onde o fantástico e o real se entrecruzam, cotidianamente”. E Borges dá a saída: “aceitar o sonho como aceitamos o universo, olhar com olhos e respirar”. E foi assim, nunca esquecendo de respirar juntos, que chegamos aqui, neste delírio, neste calor coletivo, nesta terra quente de nossos sonhos.
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Ayrton Baptista Júnior
DELÍRIO EM TERRA QUENTE: DELICIOSA CIRANDA DE PROTESTOS
publicada no site www.wapanda.com.br
Delírio em Terra Quente começa e termina com cortejo fúnebre. Achou triste? Aviso que não é. Neste espetáculo, a Cia. Mineira de Teatro apronta uma colorida ciranda que aborda ditaduras latino-americanas, sexualidade, questionamentos sobre ascensão social e ao modelo made in USA. Achou muito sério? Aviso também que muito se protesta, mas não é um formal teatro político. É uma peça inquietante (sim!) e deliciosamente delirante.
Entre o primeiro e o último funeral, o texto não linear oferece a insatisfação dos empregados, o garçom sem dinheiro para a prostituta, a agonia da dona de casa diante da bagunça dos filhos, e anuncia novas mortes, de poderosos e de contestadores.
O público vê a peça sentado em confortáveis sofás ao redor do palco. A luz nunca intensa e vestes que mais parecem trapos emprestam um adorável sabor de trupe aos atores, que acentuam as tantas transformações com objetos de dupla função: a cama do bordel vira carroça; a mesa de reunião passa a ser a porta da família; a escada de segundos atrás agora é navio. Intocável é apenas a velha poltrona, que funciona como um trono da morte.
O jovem elenco da Cia. Mineira é de alunos do premiado grupo Espanca! (celebrado desde Por Elise, que estreou em 2005), que assina a direção e informa que textos de Júlio Cortazar e Gabriel Garcia Márquez são algumas das fontes de inspiração Mas Delírio em Terra Quente vai muito além! A salada inclui Getúlio Vargas, Superman, Che Guevara e Disneylandia e eu a devoro como se saboreasse um misto de dois grandes filmes: Terra em Transe, de Glauber Rocha, e Amarcord, de Federico Fellini.
Direção, Dramaturgia, Direção de Arte e Coordenação de Produção: espanca! (Aline Vila Real, Grace Passô, Gustavo Bones e Marcelo Castro)
Elenco: Adeliane Melo, Adriana Januário, Ana Araújo, Bruno Cuiabano, Clécio Luiz, Denise Leal, Fabiana Loyola, Fabiano Rabelo, Fábio Ribeiro, Flávia Almeida, Guilherme Colina, Igor Leal, Juliana Birchal, Luciana Brandão, Mayara Dornas e Roberta Torres.
Núcleo de Dramaturgia: Adriana Januário, Ana Araújo, Fabiano Rabelo e Flávia Almeida
Núcleo de Direção de Arte: Adeliane Melo, Bruno Cuiabano, Clécio Luiz, Luciana Brandão e Roberta Torres
Núcleo de Produção: Denise Leal, Fabiana Loyola, Fábio Ribeiro, Guilherme Colina, Igor Leal, Juliana Birchal e Mayara Dornas
Colaboração da Prática Corporal: Gabriela Christófaro
Assistência na Preparação dos Atores: Cristiano Peixoto
Colaboração no Registro do Processo: Ângela Mourão
Iluminação: Felipe Cosse e Juliano Coelho
Colaboração nos Figurinos: Renata Cabral e Clarice Panadés
Consultoria de Direção de Arte: Raul Belém Machado
Arte Gráfica: Vinícius Souza
Trilha sonora: Laboratório de Trilha Sonora do CEFAR
Coordenação de Trilha Sonora: Ricardo Garcia
Composição e Arranjos: André Taciano (violino), Gabriel Bruce (bateria), Thiago Braz (violão), Thiago Diniz (violoncelo) e William Rosa (baixo)
Estagiário e Operador de Áudio: Jésus Lataliza
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
Espetáculo de formatura do Curso de Teatro do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes
Delírio em Terra Quente estreou dia 09 de dezembro de 2010, no Meia Ponta Espaço Cultural Ambiente, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
2011
Abril
– Festival de Teatro de Curitiba – Fringe – Teatro Cleon Jacques. Cutiriba, PR.
Março
– Curta temporada: Meia Ponta Espaço Cultural Ambiente. Belo Horizonte, MG.
2010
Dezembro
– Temporada de estréia: Meia Ponta Espaço Cultural Ambiente. Belo Horizonte, MG.