Acto1!

6 jun 2011

A 1ª edição do Encontro, realizada em parceria com a Agentz Produções, aconteceu em Belo Horizonte, entre 19 e 22 de abril de 2007, no Teatro Dom Silvério, no Museu Mineiro e no Espaço Ambiente. O ACTO1! reuniu o Espanca!, a Companhia Brasileira de Teatro (PR) e o Grupo XIX (SP) sob a mediação do professor e crítico teatral Kil Abreu. Cada coletivo apresentou um espetáculo de seu repertório (Por Elise, Hysteria e Suíte1) e propôs aos demais presentes uma tarde de diálogo sobre sua história e seus processos de criação. Por meio de apresentações de espetáculos, demonstrações de trabalho e conversas, parceiros e pensadores foram convidados a refletir sobre o teatro que fazemos no Brasil hoje, mesmo com caminhos estéticos distintos.

carta de abertura do acto1!

Belo Horizonte, 19 de abril de 2007.

Os princípios que guiam a criação artística são diversos e ilimitados. Dar inícioao processo de construção de uma obra é percorrer um caminho visível aospoucos. Por melhor que seja o planejamento e a elaboração do roteiro, os riscossão inevitáveis (e imprescindíveis!) quando se propõe dialogar coletivamente.O espetáculo “acontece” como parte do acúmulo de conhecimentos, escolhas,sensações e intuições de todos os artistas envolvidos na cena.

Buscamos entender a natureza do nosso teatro. “Natureza” é a condição do homemantes mesmo da civilização. Buscamos entender o que está por trás da civilidadedo teatro que nós fazemos, da forma como nos ordenamos, da nossa Ordem.Lembramos ainda que a “natureza” talvez tenha sido o primeiro ato divino. Ohomem veio depois. Assim, acreditando que no que é divino não se toca (o que édivino é pessoal e intransferível), vamos começar pela natureza.

No princípio, o teatro talvez tenha chegado a nós, os artistas, cheios deinformações definitivas. Talvez tenhamos aprendido que ele, o espectador, deveassentar-se embaixo e no escuro e nós artistas em cima, iluminados. Que o atordeve encontrar de qualquer forma uma voz diferente ou um jeito de andar que nãoseja o seu no dia a dia concorrente da ficção. Talvez tenhamos aprendido que oque é épico é épico; o que é lírico é lírico; e o que é dramático é dramático. Não hámistura, só fronteiras. Que determinados estilos e conceitos são paradigmas claros,bases sólidas e intransponíveis para a criação.

No entanto, com o tempo, entendendo que a arte, assim como a vida, tem umaforma muito frágil e em constante mudança, somos, artista e público, convidadosa repensar o caminho. Se ela nos foi apresentada de determinadas formas, como tempo, somos convidados a repensar a forma como a apresentaremos para ooutro, o público. Repensar também em que capítulo desta antiga história estamos…Avançamos? Voltamos algumas páginas? Olha quanta fragilidade tem a nossa forma.

Com o ACTO1, queremos investigar como os grupos e os participantes têmfeito teatro, investigando as formas expressivas que são, por vezes, frutosde estratégias conscientes da criação e, por outras, resultados inconscientes:frutos inocentes da nossa inspiração, esse entusiasmo divinamente pessoal eintransferível. Se “querer é poder”, queremos também sinais de respostas dealgumas perguntas que nos perseguem para que possamos clarear os próximospassos e pisar ainda mais forte. Coincidentemente, os três coletivos participantesestão em fase de gestação dos próximos “frutos” ou preparando a terra.
Para isso, convidamos grupos que, nesses mais de dois anos em que existimos,nos identificamos com a substância de seus trabalhos. Ressaltamos que essaidentificação nasceu, sobretudo, por termos feito parte da experiência dosacontecimentos teatrais destes grupos: assistimos às peças do Grupo XIX de Teatroe da Companhia Brasileira de Teatro e percebemos que alguns pontos dos trabalhosfazem parte da matéria prima do teatro que gostamos.

Só para citar um dentre os diversos pontos, o tipo de relação travada com oespectador. Ele está conosco, presente, como nós. Ainda que comodamentesentado, sua respiração, emoções, sentimentos constroem o rito, juntos. Tambémgostamos de muitas outras coisas.

Gostamos quando, no início de “Suíte 1”, os atores permanecem um longotempo olhando para a platéia, como quem pergunta: “E então, quem começao espetáculo?”. Gostamos como as atrizes-autoras passeiam pelo textoem “Hysteria”, com uma dramaturgia aberta e, conseqüentemente, fresca,pulsante, além de outras coisas.

E, acreditamos que por trás desse gostar, existe um desejo em comum. Porisso, convidamos esses artistas para esse Encontro. Puro sentimento, afinidade,intuição… E técnica (por quê não?). Mesmo que estes grupos não sejamcaracterizados por uma técnica específica, elas podem ser vistas aqui e ali, comoresultado de uma estrada bem peculiar.
Assim, propomos uma forma de entender o que os moveu para chegar nas formasde seus espetáculos, inspirados no que disse de Pina Bausch: “…não interessatanto como as pessoas se movem e sim o que as move”.

Continuando a citar pessoas, Peter Brook disse uma coisa muito boa: “Na vida,nada existe sem forma, a todo instante somos forçados a procurar a forma”. Assimé também no teatro. Então, convidamos a todos para investigarem as formas denossos trabalhos, o que os levaram a serem assim, como nos movimentamos noteatro para que ele seja sempre o que é: uma arte provisória.

Bem vinda, Companhia Brasileira de Teatro!

Bem vindo, Grupo XIX de Teatro!

Bem vindo, Kil Abreu!

Bem vindo você, que veio compartilhar conosco!

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