© 2010 Nadja Naira DSCN3928 web

PACOTE 1

Pacote recebido 22 de novembro de 2010

Pasta vermelha contendo miniaturas de grampos de roupa e:

1 – filme Koyaanisqatsi: Life out of Balance, um documentário americano lançado em 1983, dirigido por Godfrey Reggio e com música do compositor Philip Glass.

2 – texto Manifiesto I BURBUJAS DE BABA do argentino Emilio Garcia Wehbi. O texto faz parte do projeto PROYECTO FILOCTETES;

3 – texto Da paisagem-trouvée ao território inventado: observações sobre os circuitos de arte contemporânea no Brasil, de Newton Goto.

1 – O filme Koyaanisqatsi: Life out of Balance, é o filme mais conhecido da trilogia Qatsi, que é composta com as seqüências Powaqqatsi(1988) e Naqoyqatsi (2002).

A trilha sonora deste documentário possui grande importância pois o desenrolar tem a velocidade e o tom ditados por ela. Não existem diálogos e também não são feitas narrações durante todo o documentário.

São apresentadas cenas em paisagens naturais e urbanas, muitas delas com a velocidade de exibição alterada. Algumas cenas são passadas mais rapidamente e outras mais lentamente que o normal, criando, com a trilha sonora, uma idéia diferente da passagem do tempo. Vários dos efeitos apresentados se tornaram clichês usados em outros filmes e programas de televisão.

A palavra koyaanisqatsi tem origem na língua Hopi e quer dizer “vida desequilibrada”, ou “vida louca”. O significado é revelado ao final do documentário antes da apresentação dos créditos. No final do documentário são cantadas três profecias do povo Hopi em sua própria língua, as quais também têm suas traduções apresentadas antes dos créditos.

O filme leva sua audiência a refletir sobre os aspectos da vida moderna que nos fazem viver sem harmonia com a natureza, bem como a pressão exercida pelas inovações tecnológicas que tornam o cotidiano cada vez mais rápido.

Fonte: wikipedia

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Koyaanisqatsi

Desenterrando coisas valiosas, estaremos chamando a desgraça. Aproximando-se o dia de purificação, o céu encobrir-se-á de teias de aranha. Um vazo cheio de cinzas poderá cair do céu; poderá queimar a terra, e agitar os mares.”

Estará o homem diante de uma visão apocalíptica, que poria um fim ao caos que domina o mundo?
Fazendo uma análise da evolução do homem na terra, desde os primórdios da existência – ainda na Pré-História – até a atualidade, a pergunta que fica é a seguinte:  para onde essa evolução irá conduzir o ser humano? Koyaanisqatsi é como uma síntese da existência do mundo, desde quando o homem era apenas um elementar ser vivo, quando não havia a preocupação ou a ganância da conquista de territórios, distante da ambição material e da mesquinhez que resultou no caos que se vê atualmente. Não se trata de uma crítica à evolução tecnológica, mas um alerta sobre o destino da humanidade. As guerras surgiram para medir forças entre as nações, para incentivar a indústria e a tecnologia visando a autodefesa.  
             
Mas defender quem e do quê? Defender o homem do próprio homem.

Pode parecer hipotético um comentário assim dentro da escala animal, mas o maior inimigo do ser humano tornou-se o próprio ser humano. Essa ambição coloca em risco a vida do planeta como um todo, que não pertence ao homem uma vez que ele é apenas um elemento integrante do meio.
O início lento do filme apresenta imagens do mundo natural, livre da ocupação humana, o que leva o telespectador a se deliciar com o fantástico planeta azul. O ritmo cadenciado não prenuncia uma sucessão de imagens fortes, com o poder da chamada civilização transformando a paz em desordem. Os detalhes da ocupação e do domínio humano são apresentados sem nenhum pudor. A tecnologia, as cidades, a correria, os símbolos do poder capitalista traduzem um conjunto de desunião e rivalidade, evidenciada principalmente quando nos tornamos testemunhas de explosões e depredações, maiores exemplo da destruição humana.

O espetáculo visual transforma-se de forma negativa e a aceleração do ritmo acompanha o compasso, até a música cadenciar novamente, como se fosse a única força capaz de restabelecer a ordem. Entretanto, o maior exemplo da ganância do homem está na tentativa da conquista do espaço. As consequências são catastróficas e o que se observa é mais uma explosão, talvez um castigo pela ocupação de um território acima de seu poderio. Seria o poder divino alertando o homem para que se coloque no seu devido lugar, em vez de brincar de imitar o Criador?
José Donizetti Morbidelli – Jornalista   jdmorbidelli@estadao.com.br

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2 – texto Manifiesto I BURBUJAS DE BABA de Emilio Garcia Wehbi. O texto faz parte do projeto PROYECTO FILOCTETES.

   

PROYECTO FILOCTETES. una intervención urbana de Emilio García Wehbi
Síntesis conceptual:
Filoctetes, el del pie podrido y hediondo, se transforma súbitamente en un desclasado de la sociedad griega, y como su hediondez lo hace impresentable e insoportable es desterrado a la isla de Lemnos. Este mítico personaje sirve de excusa a Emilio García Wehbi para pensar la vida marginal en las ciudades actuales.
Nuestras ciudades, todas, con distintas graduaciones pero sin grandes diferencias, tanto Nueva York como Buenos Aires, Sydney, México, París, Sao Paulo o Londres son nuevas Lemnos contemporáneas y allí sobreviven miles y miles de harapientos Filoctetes con sus pies podridos y apestosos “ensuciando nuestras calles y afeando el paisaje”.
A grandes rasgos, para García Wehbi, hay dos tipos de gentes en las calles de nuestras ciudades: los transeúntes, que las recorren y atraviesan, se benefician de sus servicios y comodidades; y los que las habitan realmente: los sin hogar, mendigos, pordioseros e indigentes, es decir, “los inmigrantes” que son expulsados a ellas. Como artista, García Wehbi -director y actor de teatro, fundador e integrante del grupo El periférico de objetos-, deseaba interrogar estéticamente el vínculo entre ambos grupos, explorar más allá de la obvia indiferencia de los primeros hacia los segundos e indagar en las
reacciones y consideraciones de los privilegiados, los afortunados, y ver qué sucedía en esa confrontación hiperreal (pero ficticia, de performance) con la muerte y la miseria como parte de la vida cotidiana.

A tal fin, una serie de veinticinco cuerpos hiperrealistas -hechos de látex y con vestimenta- son ubicados a un mismo tiempo en veinticinco lugares específicos de la ciudad dónde se realiza el proyecto. Los cuerpos se ubican durante la madrugada de tal forma que sean descubiertos por una audiencia no advertida a partir de la mañana –al comienzo de la jornada laboral-, postrados en la calle, durmiendo en la entrada de un museo, otros sentados, arrodillados, etc. Cada cuerpo es supervisado por un grupo de artistas que participan de la experiencia y que realizan un seminario junto a García Wehbi los días previos y posteriores a la intervención.
El Material recopilado durante la experiencia (fotografías, testimonios y video) son luego analizados y exhibidos al público. 

Emilio García Wehbi

www.emiliogarciawehbi.com.ar

Emilio García Wehbi nace en Buenos Aires en 1964. Es un artista interdisciplinario que trabaja en el cruce de lenguajes escénicos. Desde 1989 –año en que funda El Periférico de Objetos, grupo paradigmático del teatro experimental e independiente argentino- hasta la fecha, se ha destacado en sus actividades como director teatral, régisseur, performer, actor, artista visual y docente. Sus espectáculos, óperas, instalaciones e intervenciones urbanas han sido presentados en los principales escenarios, festivales y ciudades de Argentina, Brasil, Chile, Uruguay, Perú, Colombia, Ecuador, Venezuela, México, Estados Unidos, Canadá, Portugal, España, Irlanda, Escocia, Francia, Suiza, Holanda, Bélgica, Austria, Alemania, Polonia, Italia, Suecia, Australia y Japón.

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3 – texto Da paisagem-trouvée ao território inventado: observações sobre os circuitos de arte contemporânea no Brasil, de Newton Goto, maio de 2010, texto originariamente publicado na revista Tatuí

Um montanhista sobe uma montanha porque ela está lá. Um artista faz arte porque ela não está lá. Se o circuito de arte é um território já dado, basta ao artista, como um alpinista, escalá-lo. Ou, como artista, o próprio território da arte será algo inventado.

 A quase totalidade das sociedades urbanas do mundo ocidentalizado sustenta-se sobre modelos de desigualdade e controle social, por ora (pós-queda do muro de Berlim) plasmadas num neoliberalismo econômico sem fronteiras. A atuação do artista como intelectual crítico continua sendo a de revelar e desconstruir as convenções culturais que reduzem a vida à mercantilização dos desejos, burocratização e alienação dos fazeres, padronização das  subjetividades, dos costumes e das linguagens. Se o mundo está muito injusto, errado, insano e doente, se a desumanidade governa, por que a arte e o pensamento simplesmente atenderiam às suas demandas como supridores de objetos específicos e alienados, alimentando com novos produtos uma gigante máquina suicida? Instaurar um novo ambiente, linguagem e realidade, é nadar contra a corrente. A contracultura e a antiarte continuam sendo necessidades contemporâneas, ou como Hélio Oiticica apontou, entre uma das seis características de uma arte brasileira de vanguarda: “o ressurgimento do problema da antiarte”. E essa nova realidade desejada pela arte é em princípio o imaginário e o sensorial, individual e coletivo, a partir do qual é possível perceber as coisas diferentemente, agir e transformar. A subjetividade é também um campo de batalha. Se vivêssemos numa sociedade justa e feliz, talvez todos fôssemos artistas e nossa arte estaria impregnada em tudo como celebração da vida, como reificação dos valores da coletividade, do simbólico, dos costumes, de uma cosmogonia, da inventividade humana. Não é o caso. E isso não quer dizer que não haja felicidade, pois em todos os lugares tenta-se também reinventá-la e cultivá-la. A arte então parece estar nessa dupla missão: desfazer amarras e encaminhar saídas, mesmo que num corpo a corpo, numa microfísica dos acontecimentos, pois para haver comunidade é necessário indivíduos e qualquer transformação real coletiva começa pelo sujeito. Assim seguimos. Em termos táticos, não basta a linguagem artística estar impregnada de conteúdo social, ela necessita estar atenta também ao lugar por onde transita e como se desloca. Para não ficar esvaziada de sentido – retórica sem lastro existencial. Qualquer coisa pode ser arte, mas arte não é uma coisa qualquer. Qual é a coisa que se quer fazer? Qual é o lugar onde se quer estar? Entre o artista e a sociedade há uma terceira margem do rio, indissociável do próprio fazer artístico: o circuito de arte, com sua herança histórica e seus meios de legitimação cultural. Equívoco seria imaginar esse circuito como neutro, um circuito branco3, como um cubo branco, desvinculado dos interesses e valores conflitantes da própria sociedade.

Além da linguagem e de um imaginário a serem desenvolvidos e compartilhados, outros e simultâneos campos de atuação complementam o lugar de trânsito do artista: o repensar de seu papel na sociedade; a reavaliação das políticas públicas para as artes empreendidas pelo Estado; a revaloração do trabalho artístico frente às intituições e mercado; a criação de redes autônomas de trocas simbólicas entre artistas e sociedade. É sobre esse território que aqui se quer falar, usando a língua de duplo sentido, que desconstrói e recodifica. Qual história da arte? Qual circuito? São tantas as verdades. Propõe-se abordar algumas conjunturas do já cinquentenário circuito de arte contemporânea no Brasil. Avaliar alguns macrocontextos ao longo das décadas para tentar entender alguma estruturação do presente, breve ponto de parada e mirante para o agora, de onde o olhar se lança como desejo de caminhada para o futuro imediato: aberturas, saídas, alternativas. (trecho de introdução do texto completo)

http://newtongoto.wordpress.com/

NEWTON GOTO Nascido em Curitiba, 1970, onde vive. Multiartista com trabalhos desenvolvidos em circuitos, intervenção urbana, ação coletiva, instalação, fotografia, vídeo, escultura, gravura, desenho, pesquisa, curadoria e produção.

Mestre em Linguagens Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2004, curso o qual realizou como bolsista CAPES e com orientação de Glória Ferreira, elaborando a Dissertação Remix corpobras. Especialista em História da Arte no Século XX pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), em 2000, com orientação de Maria José Justino, elaborando a Monografia Território concreto de idéias: o além do específico na obra de Cildo Meireles. Bacharel em Pintura, EMBAP, 1993.

Coordenador de ações culturais da epa! (expansão pública do artista), entidade realizadora de pesquisas, textos, curadorias autodependentes, agenciamentos coletivos, eventos artísticos e projetos junto a comunidades. Entre as ações propostas, organizadas e geridas pela epa!, os encontros Uôrk-Xók – com diversos empreendedores de circuitos artísticos autogeridos ocorridos no Paraná a partir de 1969 (TUC, 2001); Carasgráficos – exposição e encontro de editores de jornais e revistas de arte do Paraná a partir dos anos 70 (UFPR, 2002); as mostras de vídeo Vide o Vídeo (Cinemateca de Curitiba, 2002) e Circuitos Compartilhados (desde 2005), coletânea com vídeos de 87 circuitos artísticos autogeridos por artistas brasileiros contemporâneos; exibida em Curitiba, Londrina, Rio de Janeiro, Maceió, Antonina/PR, São Paulo, Recife, Brasília, Uberlândia-MG, Belo Horizonte e Salvador. E também o projeto de intervenção urbana Galerias Subterrâneas, nas travessas subterrâneas de terminais de ônibus de Curitiba, com a participação de 7 artistas e coletivos de artistas brasileiros (2008). Propõe e participa de ações e exposições artísticas, individuais e coletivas, desde 1992.

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