Por Ana Luisa Santos
Belo Horizonte, rua Aarão Reis, Teatro Espanca, 14 de novembro de 2016
Obrigada por essa experiência Obrigada por estar junto
A gente varreu a rua
A gente varreu a rua
A gente varreu Aarão
Ficou no bar
Dormiu na rua
Conversou com as pessoas que vivem na Aarão A gente fez performance passaarão
Pixou a parede do espanca
A gente almoçou no edifício central Colocou planta na estação move
E a estação foi reformada
A gente desenhou e escreveu carta na rua Jogou peteca
Comeu frango assado
Dormiu no chão
Acordou no ponto de ônibus
Viu a festa das muitxs
Bebeu e fumou
A gente se cuidou
Porque sentimos que rua nos atravessou E nós permitimos esse atravessamento
E ao atravessar Cantar Cazuza Dançar no bar Sentar no chão Ficar bêbado Tomar café Viver o agora
E ouvir e escutar o que o outro tem a dizer ou contar O dinheiro é um tipo de linguagem na rua
No corpo do mundo
Recebemos visitas
Fomos acolhidos
Acolhemos também
Quiseram dormir com a gente na calçada
Por que fizemos isso?
Para saber como é
Pra perceber o estado
Para descascar o corpo
Para experimentar a invisibilidade social
Para exercitar procedimentos de performance Para pesquisar Aarão e escavar a história de BH Para conhecer quem é o povo da rua
Para experimentar o povo no rua
Para tentar entender o tempo da rua
Para imaginar quantas pessoas passam por aui Para viver algo que pudesse nos transformar
E transformar a rua
E transformar a rua em nós
Em corpo
Transformar a forma de ver viver a rua E as pessoas na rua
…
Preciso escrever o texto do espanca Preciso escrever o texto espanca Preciso escrever 24 horas
…
Quando o Marcelo me chamou
Eu estava interessada no Marcelo
E no Espanca
E na rua
No Marcelo que é Espanca
E que queria fazer ações 24 horas Estou interessadas nessas durações Na rua
Na vida
Com a rua, na rua, pela rua, através da rua Na cidade
Espaço público, coletivo, comum
De passagem
Do urbano e do afetivo convívio
Do transito vivo, de encontro, diferença, confronto e conflito A rua dos esquecidos
A rua dos carros
A rua dos aflitos
A rua do passado
A rua da cidade onde nasceu a cidade onde eu nasci Cidade que eu não conheço
…
De uma forma sinestésica
De tempo
Estado
Plano
Plano baixo
Relativizar o lugar da arte
De arte
Do limite
Do corpo
Da morte
Do visível
Do invisível
Da performance
E de seus procedimentos
Na vida
A rua não é a mesma nunca
A rua não é a mesma de manhã
A rua da noite não é a mesma
…
Nesse tempo provisório
De certezas mais provisórias ainda Onde estamos e somos todos relativos Sentimos relativamente
E a arte é provisória e iminente
Em suas descobertas de novas lutas
Novas formas
Novas poéticas
Outras necessidades
Para velhas chagas
Propomos encontros provisórios de escavação
Da rua
Do corpo
Da gente
…
Por que a gente tem tanto medo da rua?
Que tipo de experiência é essa?
De onde vem esse aprendizado?
Por que sentimos assim?
Como proceder performativamente para reverter esse ranço político? Essa aversão à rua?
O que a rua é para nós?
Por que tanto medo?
Por que tanta sensação de violência?
A rua é um lugar de violência?
A rua é lugar de que?
A quem interessa isso?
A rua é um lugar?
Que tipo de lugar?
Que tipo de uso tem a rua?
A rua é lugar de passagem?
A rua é o lugar do descarte? A rua é o lugar do lixo?
A rua é o lugar do sujo?
A rua é o lugar do mijo?
A rua é o lugar da transgressão? A rua é o lugar do erotismo
A rua é o lugar do proibido?
A rua é o lugar proibido?
O que é proibido na rua?
Ficar nu?
Como ficar na rua sem tirar a roupa? Como finar nu na rua sem tirar a roupa? Como ser visível na rua?
Como ser invisível na rua?
O mundo não é do jeito que eu quero Mas o que eu queer?
Eu não sou a mesma
Ainda bem
Por que fizemos isso?
O que isso gerou na rua?
O que a rua gerou em nós?
O que nós podemos gerar na rua? O que é gerar rua em alguém?
O que é gerar linguagem?
A linguagem mudou e a conversa na rua é tão direta
Ela morreu?
A linguagem morreu
Clélia morreu
Ela morreu aqui
E nós vamos tomar café aqui
Agora
Em homenagem a ela
…
Inventário provisório dos encontros
Estado sacudido, alterado, performático
Das experiências mais fortes que já vivenciei
Dificuldade de contar
Distancia com relação ao outro que não testemunhou
Não cabe nas palavras
Pós
“você fala e sente falso”
Duração, experiência, acúmulo
Tudo que aconteceu
ESTADO
Eu não queria nada
Estar, simplesmente
Falta de intencionalidade?
Convicção do programa (programa do núcleo e de cada ação) Trocar, imediato x processo suave firme
Resultado do trabalho de todo o núcleo
“vocês são da rua” – ser reconhecido como igual
“vocês são do trecho”
A performance que faz isso
Sensação forte
Acesso a certas vidas, tipos de vidas, modos de vida
Fomos impregnados de energia
Cárcere x rua
Mecanismos de sobrevivência
Camadas de sobrevivência
Liberdade não é só física
Adaptação a uma rotinha
Espaços marginalizados de convívio
Laços ou não?
Vínculos por outras vias
Outros vínculos
Diferentes do social comum
Outros códigos de relação
A questão da energia
Outra dimensão de vida
Outra dimensão de humano
Necessidade de narrar
Nos acionavam na percepção
De narrar, de falar, de contar, de relatar, de viver
(se) alimentar da liberdade do outro
O gesto
“não quero falar de violência”
Levi compartilhando dinheiro em moedas
Expressar o vivido é a forma que a gente encontra de não deixar passar O vivido e o inventado
Viver o agora
Pressão do agora
“prisão no agora”
Momento de reflexão x frenética aceleração Alteração do estado de consciência
Quando acordamos
Estado alterado já estávamos rua
Lembrar x esquecer
O que a gente é capaz de fazer junto?
Do que somos capazes?
Importância das visitas
Freqüência de energia
Alerta
Escuta
Presença
Muitas histórias
Acumular histórias
Convocações
Convocações
A linguagem direta da rua role de rua
Não ter medo de dizer
“educação?”
Sem filtro
Sensibilidade para aumentar a percepção para outras camadas
Exercitar o abrir
Estamos muito influenciados pela grosseria
Me ajuda a perceber outras possibilidades de vida, de arte, de encontro, de outro
Escola, o quanto a gente é doutrinado
“excesso de educação” formal, autoritária, dominadora x abertura, troca Absorvendo o que é da rua
Poros se abrindo
Entidade da rua
Grupo com diferentes estratégias, tempos, visitas
O dinheiro é aquilo que circula
A experiência de verdade
Votar 24 horas há Aarão
Revigorante transformação
Muitax
Cansaço, elétrico, drogado
Fronteira festa
Sensações diferentes de beber e fumar
Conversas em lopping
Invenção de repetição, na repetição
Delírios
Cada pessoa é um mundo
Mudar a forma de agir
Mudar a forma de pensar
Contraste domingo segunda-feira
Intimidade existe
Intimidade não existe
“não consigo contar” – por que?
Indizível? Por que?
Medo x imerso
Estado de choque
Imersão – difícil sair, difícil ir embora
Experiência do retorno
Era preciso voltar
Ruído como ruptura
Ruído como transformação
Ruído como quebra
Ruído como rompimento do cotidiano
Ruído como estranhamento com os lugares fechados Com o convívio social
Com a festa
Dificuldade de voltar
Andar a pé
Comprar
Usar o banheiro
Ruptura de hábitos, jeitos
Estratégias da rua na rua
Agrupar
Dispersar
Papo reto
Convite invisível pedf
Crise de presença
Contato vital com o real
Camadas
Tirando e percebendo camadas da Aarão
E a rua foi tirando camadas da gente
As coisas vão se relacionando
O contato vital com o real nos coloca em estado de presença
Virtualidade (eleição, representação) x verdade corpo a corpo da na rua
Ninguém vai nos representar
Anarquia vem do caos, aniquilação, destruição
“sociedade contra estado”
Fala dos caciques esvaziados de ordem
Fala dos caciques esvaziadas de ordens para serem executadas
Fala dos moradores de rua: outra linguagem
“que me prendeu foi o celular”
Contar para as pessoas sobre o acontecimento
Difícil de abordar o que aconteceu
Bairro, vizinhança, isso é virtual?
Mobilização mais pele x violência
Importância da Companhia
Parecia família
O programa implica companheirismo para enfrentar o medo e a sensação de insegurança Sinceridade papo reto
Peteca da rua
Aqui reina o instante
Programa do núcleo
Processo coerente e aberto a atravessamentos
Risco como um lugar que eu não conheço
Abrir para o desconhecido
Abertura como disposição
Difícil contar
Difícil registrar
O que a gente fez não importa
As ações não são a coisa
Performance como acaso, frase, livro, citação, sensação
Vibrando ainda lugar provisório sem forma
Performance pouco teórica
Experimentação
Não tese, sem conclusão
Continua
Não sei explicar o que aconteceu
(as pessoas estão com desejo de participar, inclusive no teatro)
É processo para tudo o que eu vou fazer daqui para frente
Material espiritual
Material incorporado reverbera das dimensões das relações do dia a dia Necessidade de estar presente para entender o que aconteceu
A imagem, sozinha, não contempla
Alguém, sozinho, não contempla
Um cartaz rasgado escrito dignidade
Que registro dá conta?
Quais são os limites da fotografia?
Quais são limites do palco?
Quais são os limites da rua?
Necessidade de registrar é um tipo de limite?
Foi para a gente
Foi para o outro
É preciso na arte
Ferramentalizado
Sensível para os registros
Como compartilhar
Como criar linguagem
Como fazer política
Como ir para o outro
Ferramentas de compartilhar
Ser mais sincera com a fotografia
Criar outra relação com a imagem
Criar outra ética com a imagem
Como experienciar a imagem?
Você precisa da câmera para ver as coisas? Canhão congelando
Cosias que você nem viveu Fotógrafos são perdedores? Perdem instantes?
Perdem experiências
Duas palavras
De morar
Demorar Demoradores de rua Coletivo
Co lei tivo
Dormir deitar junto Leito
rua