Desde 1930, o Monumento à Civilização Mineira dá boas vindas a quem desembarca na Estação Central. Erguido em homenagem aos “heróis da liberdade das Minas Gerais”, foi criado pelo artista italiano Giulio Starace (1887-1952) ao preço de 300 contos de réis. Esculpida em bronze e granito, a obra é composta por uma figura humana que representa o heroísmo do cidadão mineiro e mais quatro relevos encravados no bloco central. No alto, a estátua de um homem nu, inspirada em Apolo, leva uma bandeira em punho. Nas laterais, os relevos representam o domínio do território por bandeirantes desbravadores e a conquista da liberdade pelos mártires mineiros. Possui 15 metros de largura por 12,5 metros de altura e 8 metros da frente ao fundo. Calcula-se que foram empregados cerca de 5.000 quilos de bronze fundido, dos quais aproximadamente 2.000 quilos estão colocados na estátua do homem. Na base do monumento existe uma inscrição em latim: Montani Semper Liber, ou “Os montanheiros são sempre livres”. Mas nem tanto…
A obra foi censurada antes mesmo de sua fundição, quando ainda estava no papel. Na ocasião, foi sugerido ao autor que prolongasse a bandeira levantada pela figura masculina (concebida originalmente nua) de modo a encobrir a região pélvica. Mesmo assim, a tradicional família mineira ainda cobre os olhos de suas crianças ao cruzar a praça, temendo a influência de uma certa alcova libertina sobre seus rebentos inocentes.
Segundo artigo publicado por José Clemente no Estado de Minas de 10.11.73,
“(…) Aquele mancebo musculoso de bronze, que lá está no topo, com uma bandeira na mão, concepção do escultor Giulio Starace, autor da obra, não era para ter tal bandeira. Mas o dr. Lourenço Baeta Neves, grande engenheiro, assessor do Presidente Antônio Carlos, mandado pelo Presidente ao atelier do escultor em São Paulo, para ver como corria a obra encomendada pelo Governo, insurgiu-se, por bem conhecer nossa gente, contra o nu da estátua, já pronta para ser fundida em bronze. Discutiu muito com o escultor, que não queria alterar sua criação. Mas o convenceu. E então, o escultor Starace meteu aquela bandeira nas mãos do homem-estátua, arranjando jeito de, com as dobras do pano, cobrir-lhe do nu tudo quanto considerava o ilustre engenheiro Baeta Neves que deveria ser bem coberto, para a estátua poder figurar em lugar público na capital mineira cheia de melindres. Ouvi as lamentações do artista Giulio Starace no dia da inauguração festiva do monumento. Estava furioso porque fora forçado a mutilar a sua concepção de artista…”
”
(completamente nua e arrastando sua bandeira pelo chão, a estátua diz) Sou um ser lançado nu mundo. Vim com a missão de trazer boas vindas a quem chega à cidade, mas já não faço isso. A cidade é outra e eu permaneço imóvel. Hoje só observo. Minha função é observar. Por isso sou todo olhos. Não são só minhas pupilas que observam, já que minhas pupilas são feitas do mesmo material de todo o meu corpo. Meu criador me criou nu! Mas a cidade puritana logo me cobriu. Por isso hoje repito:
Ninguém nasce com roupa
Todos nascemos pelados
Assim como ninguém nasce mau
Se torna mau quando ensinado
Ver um corpo despido
Altera tanto o seu estado?
Te faz perder os sentidos?
Trocar o certo pelo errado?
Ondé que tá o pecado?
Caralho, peito, vagina
Tudo isso é tão natural
E a natureza não é divina?
A verdade é que minha rigidez e valentia de bronze escondem minha alma sensível que se comove com tantas coisas que transitam por aqui! Liberdade para os nosso corpos! Viva a praia de nudismo, viva a parada das pervertidas, viva a estação! Chuta a família mineira! Os montanheiros são sempre livres!
“