O TREM QUE LEVA MINAS

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>>> Na Estação Ferroviária, vai de manhã e vem à noite o único trem de passageiros diário do Brasil. Em operação desde 1907, ele transporta cerca de um milhão de pessoas por ano.
Boa viagem! Boa viagem!
Próximo!
A senhora vai querer passagem para qual cidade?
Temos para Dois Irmãos, Rio Piracicaba, João Monlevade, Nova Era, Itabira, Antônio Dias…
Ah, Governador Valadares?! Sim, temos para G.V., mas somente no último vagão!
Ok. Executivo ou comum?
Executivo R$68,00. Comum R$37,00.
A diferença não é o ar condicionado, tanto no executivo como no comum temos um eficaz sistema de refrigeração. A diferença é a poltrona!!!
No comum, a poltrona é fixa em um ângulo de 90 graus. Já no executivo, a poltrona dá uma pequena inclinadinha, o que torna sua viagem muito mais confortável!
Depois que o trem foi modernizado, o ar condicionado transformou a vida dos passageiros. Ninguém mais sente calor e nem chega ao seu destino todo purpurinado com a pretura do pó de minério. Mas também não é mais possível paquerar na antiga e aposentada varandinha do trem, nem sentir o vento no rosto e o cheiro das frutas do ano, ou dos currais das fazendas e sítios que há pelo caminho.
Depois que o ar condicionado foi instalado no trem, as centenas de pessoas que trabalhavam vendendo água, doces e frutas pela janela do trem tiveram que mudar de profissão! Afinal, o que são frutas fresquinhas compradas às pressas pela janela de um trem perto de um ar condicionado?
Idosos tem 50% de desconto!
Este prédio que abriga a Estação Ferroviária de Belo Horizonte foi inaugurado em 1.900. Já serviu de dormitório para trabalhadores da construção civil, já foi um grande armazém e hoje é sede do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ninguém sabe muito bem o que faz este tal Instituto, nem pra quê serve esse trem de Patrimônio…
Mas por aqui passam todas as noites toneladas de purpurina preta, que alguns costumam chamar de minério.
E por aqui também partem e chegam muitas pessoas, muitas histórias…
Daqui sai às 7h30 da manhã o único trem de passageiros do Brasil com horário diário. É o trem “Minas-Vitória”, que cruza o Vale do Aço, Vale do Rio Doce, como se a vida fosse um viajar… Ele é operado por um gigante multinacional chamado Vale, que comprou a nossa alma, usou a nossa calma, e nós batemos palmas, sem saber…

O Trem Que Leva Minas

Newton Baiandeira

O trem que leva minas tem fogo na caldeira
Fumaça no cangote, tem lenha na fogueira
Tem gosto de ferrugem, têm cheiro de ciranda
De moças na janela por todas quinze bandas
Sonhar não tem limites, nem placa “proibido”
Lá vai o trem mineiro audaz e atrevido
Se não vale do aço, vale do rio doce,
Como se a vida fosse um viajar…
E sai de Itabira, passou em Antônio Dias
Drummond e Nova Era na era da alegria
Na barra de Ipatinga, Acesita e Coronel,
Lá vai o trem de Minas fumaça pelo céu
O trem parou de novo tem o Três Corações
Um de Belo Oriente, outro de Cachueirões
O outro representa, o topo da montanha
Onde o olho arranha os chapadões…
Lá vai o maquinista, passou em Valadares
Lá vai o trem de Minas fumaça pelos ares
Um quê desritmado no coração da gente
Agora a realidade a coisa é diferente
Tão triste a gente fica ao ver o chão de agora
Lá vai o trem mineiro vai por aí afora
Vai pelo império, lotado de minério
E leva tudo pro exterior…
As coisas do passado tem gosto de saudades
Me lembro de Itabira quando era de verdade
Usando calças verdes, camisas amarelas
As matas e tesouros que eu via da janela
O trem que leva Minas mudou nossa cidade
Levou nosso poeta Carlos Drummond de Andrade
Comprou a nossa alma, usou a nossa calma,
E nós batemos palmas, sem saber…
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