tchurma querida, uma amiga me pediu pra gravar um audio a partir da provocação “quando você se sente visível, notada”, aí, imbuída da energia CRIATURA escrevi um textinho que depois que eu li, me lembrou muito a Morena e outras criaturas. Então resolvi postar aqui pra nós:
Eu me sinto uma pessoa notável, sensível, presente.
Quer dizer, eu existo, não tenho dúvidas.
Mas vivemos num tempo em que tudo deve ser atestado, garantido por alguém.
Até mesmo a nossa existência.
Dependemos então do olhar do outro pra sermos.
Às vezes minha presença se concretiza, é percebida, mas eu, Eu, eu mesma não sou vista.
Então eu sinto que a visibilidade depende muito do olhar do outro.
A minha visibilidade depende do outro.
Eu estou exposta à vista do outro.
Por isso se faz necessário não depender disso.
Por isso se faz necessário me criar.
Dizer quem eu sou.
Afirmar quem eu sou.
E dar visibilidade às minhas potências.
Garantir, eu mesma, que eu seja .
Nós, mulheres, mulheres negras, não podemos depender do olhar do outro.
Nós temos um compromisso, de resistência.
Estamos aqui, presentes.
Somos Muitas, Somos experiências e sabedorias ancestrais.
Sabemos girar o corpo, fazer a roda.
E seguir em frente.
Falamos com o olhar, com as mãos e até de boca fechada.
Falamos sempre.
Porque não podemos mais nos silenciar.
Se não nos notarem, os atestaremos cegos.
Não mais seremos invisíveis e sim provas vivas de cegueiras arbitrárias.
Enviado por Aline Vila Real