Bonde para Passárgada

fernando 5

Ela chega. Parece mais uma no meio da multidão. É a multidão. Ela é gente como a gente.

A Vida da gente é pra ser contada. Tenho muita coisa pra falar, mas todo mundo aqui vai achar que é mentira. Espero que vocês acreditem no que vou dizer. (pausa.) Posso começar falando de um monte de coisa, se vocês quiserem realmente saber. Posso falar sobre gente que conheço e outras que nunca vi. Tem gente que fala das outras sem ao menos se conhecerem. Tem gente que não nos olha nos olhos. Tem gente que pega ônibus lotado todo dia, igual a gente.

Não tô fazendo cena não. A vida dá gente parece teatro mesmo. Alguns acreditam que parece até novela. Quem aqui nunca pensou nisso? Só que a vida dá gente não vai passar no horário nobre da Globo. Outro dia meu vizinho, o Pretin, mininu bão, viu? Crescemos juntos, ficávamos o dia todo brincando na rua. Sabe o que aconteceu com ele? 111 tiros. Precisava não. Mas… Ai sim a gente aparece na televisão. E como bandido. Falei com cês. A vida da gente parece teatro e clássico. É tragédia todo dia. É só ligar a televisão e o balanço é geral.

A gente estudo poco, mais a gente aprendeu com a vida a ler bem o mundo. Me falaram que quem cedo madruga Deus ajuda, mas não é bem assim não. Mais a gente tem fé, não importa no que não, importante é ter fé e fazer os corre.

Por isso que digo que a vida da gente precisa ser contada. Quem aqui não tem uma história pra contar. Aposto que a vida de cada um aqui daria uma novela, um filme, uma peça de teatro. Qualquer um aqui pode ser protagonista de sua própria história.

Já imaginou? Como seria o filme da sua vida? Tá ai. Me parece uma boa. A partir de agora a gente pode escrever nossa história.

Fico pensando na dona Antônia. Dona Antônia é minha vizinha.  A danada levanta todo dia as 5 da manhã pra fazer salgadinho. Ela vende salgadinhos pra festa. Assim ela criou os 5 filhos sozinha. O mais velho entrou agora na universidade. Ela tá toda feliz. Fica falando pra todo mundo que o filho vai ser dotor.  Tá vendo? Até parece teatro, mas né não, a vida da gente é pra ser contada. A gente precisa inventar outras histórias.


Enviado pelo Anderson Feliciano, a partir da improvisação da Michelle no ponto do MOVE.

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